Por: Hynara Versiani
O sociólogo e ex-deputado João Batista Mares Guia lançou, na terça-feira (17), no Grande Hotel de Ouro Preto, o livro Democracia, mudança social e ideologias no Brasil contemporâneo: um panorama sociológico. A obra inaugura a coleção Brasil e Democracia e apresenta uma análise dos últimos anos da vida política e institucional do país, marcados por rupturas, polarizações e ameaças ao regime democrático.
O lançamento na cidade histórica foi uma escolha proposital. Para o autor, Ouro Preto representa liberdade e resistência. “Outro nome de Ouro Preto é liberdade, por isso estamos aqui”, afirmou Mares Guia, destacando a relevância de promover reflexões políticas em espaços ligados à cultura e à educação crítica.
Da euforia democrática ao autoritarismo
No livro, Mares Guia examina os desdobramentos políticos desde as manifestações de junho de 2013, passando pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, até a consolidação do bolsonarismo e os episódios de deslegitimação das instituições democráticas. A análise, segundo o autor, parte de uma inquietação diante da instabilidade institucional vivida na última década. “Como, após 25 anos de democracia contínua, entramos num ciclo de turbulência, intolerância e extremismo?”, questiona.
A obra propõe uma leitura sociológica sobre o desencanto coletivo com a política, o avanço do neoliberalismo e o espaço que esses fatores abriram para discursos conservadores e autoritários. O autor também aponta o papel das crises econômicas e das redes sociais na reorganização do campo político.
Ameaças reais à democracia
Durante o evento, Mares Guia afirmou que o país chegou a um ponto crítico no governo de Jair Bolsonaro, com ameaças sistemáticas à Constituição e ao sistema eleitoral. “O que Bolsonaro queria era instaurar uma autocracia, sufocar o Estado democrático de direito e acabar com as liberdades civis”, disse. O autor argumenta que o país esteve à beira de um colapso institucional e alerta que episódios como os ataques às urnas eletrônicas e os atos golpistas não podem ser minimizados.
Como alternativa, o livro reforça a necessidade de um novo pacto democrático que respeite as instituições, os direitos individuais e a convivência entre maiorias e minorias. “Só há estabilidade quando a democracia é respeitada. A ditadura não gera coesão, o autoritarismo não gera paz social”, defende Mares Guia.
Trajetória é militância
João Batista Mares Guia tem uma longa trajetória na política e na defesa da democracia. Sociólogo formado pela UFMG, foi líder estudantil na década de 1960, preso e torturado durante a ditadura militar e exilado no Chile. De volta ao Brasil, atuou em sindicatos e movimentos sociais, sendo fundador do PT e o primeiro deputado estadual eleito pela sigla em Minas Gerais, em 1982. Também participou da Campanha das Diretas Já e da fundação do PSDB, retornando ao PT em 2024, a convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na área da educação, foi secretário municipal em Contagem e secretário estadual em Minas Gerais, onde coordenou políticas públicas que levaram o estado a liderar os índices de qualidade do ensino no fim dos anos 1990.